Friday, July 20, 2007

Dormes, Lázaro?



"Guerra de nervos
de terra
de classe
de raça
de ruínas
de ferro
de lacaios
de insígnias
de vento
de vento
de vento
de linhas de ar, de mar, de foices
de fronteiras, de desgraças que se enredam
que nos enredam
sob o pilar, sob o desprezo
sob ontem, sob os destroços da estátua tombada
sob enormes painéis com a palavra «veto»
prisioneiros do esterco
sob amanhã rins quebrados, sob amanhã
sob amanhã
milhões e milhões de homens entretanto
entram na morte
sem mesmo um grito
milhões e milhões
como uma perna gela o termómetro
mas uma voz de extrema estridência…
e conduzidos do Norte para o Sul milhões e milhões
entram na morte.

Dormes, Lázaro?
Morrem, Lázaro
Eles morrem
e não há mortalha
não há Maria nem Marta
muitas vezes nem há sequer o cadáver
Como um louco ri abrindo uma ostra
gritando eu pergunto
pergunto
insensatamente pergunto
se pelo teu lado, Lázaro
se pelo teu lado, agora
alguma coisa aprendeste!"

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