Saturday, December 23, 2006

Citação (importante)

03 Chuva"Mariza".w...


As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade


Mariza
(letra Jorge Fernando)

Monday, December 18, 2006

As linguagens

«Na cabeça de um homem há muitas línguas a falar diferente
Falam com bocados umas das outras e estão unidas sem saber
Quando um homem pensa sozinho consigo mesmo
E quer tirar da cabeça uma produção útil para todos.

Por exemplo: Penso Rio. É matsi, é water, é água,
É quilos de litros a andar depressa
É uma música da água, é um desenho da água na cabeça.
Posso falar Rio; posso medir Rio; posso desenhar Rio.
Posso tirar o Rio da cama e pôr o Rio acordado num papel
Que é um retrato parecido deste Rio mesmo este.

Isto que faz na cabeça de um homem tirar retrato são línguas
O Rio, a Árvore, o Animal, a Rocha, a Terra, o Sol, o Vento
São as caras da Natureza que as minhas línguas estudam.

A escola Primária Colonial está mal.
A língua das palavras não chega para tudo
É preciso aprender uma língua dos números
É preciso aprender a língua dos desenhos
As três línguas juntas é que são a língua verdadeira do Homem
E depois o Homem já fala à Natureza bem
E pode aprender dela tudo o que há-de ensinar.

Sigo a pista do cabrito: pegadas e capim partido. É desenho isso.
O excremento está fresco ao Sol. Passou pouco. É cálculo aritmético.
Está ali. Não é cabrito. É cabrita. Falei com palavras.
Conheço que não sei pensar nada só numa língua.»


António Quadros

Estranho é o sono que não te devolve

"Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
de quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
de quem já só por dentro se ilumina
e surpreende
e por fora é
apenas peso de ser tarde. Como é
amargo não poder guardar-te
em chão mais próximo do coração."


Daniel Faria