Tuesday, April 12, 2005

Para DSousa

A gente veio dos montes gritando em voz de
firmeza a dor dos passados mortos,
A força da cor da aurora.
Pintando painéis de basalto,
Soluços, vulcões e misérias,
A gente veio dos montes gritando em cor
de ter corpo
a voz de ter som por dentro.
A gente veio dos montes desarmada de mistérios,
de cabelos caídos
E braços estendidos, de mãos abertas e ossos duros.
A gente veio dos montes
Abraços, lágrimas de gente.
A gente estendeu lençóis e fez países de chuva,
a gente cantou baladas
E fez rios de pautas e notas de chumbo, diante dos olhos evidentes
Da natureza da gente.
A gente veio dos montes, despida de preconceitos,
lavar carros nas estradas com
Baldes de água da chuva,
a gente veio de lá com bandeiras de saudade e
capas de sol e luz.
A gente veio dos montes, da terra acima disto,
desta questão de escrever de noite aos bocadinhos,
a gente veio dos montes podia ter vindo da terra,
mas veio dos montes,
porque as palavras em que te tenho
começadas pela letra m, lembram-me de ti
e lembram-me a gente da minha terra, da tua terra,
A gente que o vento ecoa,
A gente que morre no eco.
A gente que manda na lei e sai de casa ao
Domingo com dores de sangue e sal,
a gente que compra ao sábado o matutino original
e o lê mês a mês na esperança orçamental
de que sucumba o preço,
de que compre pela manhã o m da sua vida.
A gente que veio dos montes come papas de milho e
bebe água das pedras da cascata que lá corre;
a gente que veio dos montes não tem pneus para asfalto nem conduz por desporto...
---tem gente de hífen longo gente------
de geometria indecisa, gente que cava o m da matéria e se esculpe com ar e argila.
Gente de ABC, gente que não chora e lê,
Gente que se consola e desola com a fraqueza de um bicho,
gente que entretém o gosto num espelho de sala para sair para a rua a pedir,
em cada sorriso, uma esmola.
A gente que veio dos montes com pastilhas de balão
não lê livros franceses nem nas horas vagas,
não sonha com personagens de literatura nem atormenta os políticos fracos.
É gente dos montes.
Gente dos meus montes de palavras que
aglomero em frases doidas e hífens que aprendi
a respeitar na métrica das minhas preferidas, favoritas, minhas...
gentes de m de montes, gentes de m de meu, gente de mensagem revirada,
de aposta em vão trocada por arquitecta mesada do sonho de te Escrever m.
Tem gente que não me olha. Tem gente que não me lê.
Tem gente. Há gente.
Para a gente.

( Novembro 2004)
( Muito obrigada! Um abraço. Até!...)

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