Thursday, June 05, 2008

Os automóveis dormem

«Os automóveis dormem. Na discoteca
estão mortos os pares que se titilam.
Ao pegar no telefone o senhor rui
despega. E não ouve. E não fala.
As flores são periscópios cegos:
também elas se dizem, não se entendem.
Ainda que subam, descem elevadores,
mas não passam do chão, como
se qualquer coisa cai: percussão
de tambor, ou tantã gutural.
O céu é azul, ou cinza, ou de outras
cores, desde sempre até sempre,
mas mais nada. E até o vento, senhores,
até o vento sopra como quem se engole
a si mesmo, seringa ou telescópio,
porém emparedado. E o mar
esfalfa as ondas entre praia e praia
sem resultados que não sejam espuma.
Entre a lua e o sol fez-se um acordo
Mas não se fez acorde. Fenecem:
Não há anjos.»

Pedro Tamen