Sunday, January 28, 2007

Amor

Amor, amor, amor, como não amam
Os que de amor o amor de amar não sabem,
Como não amam se de amor não pensam
Os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
Em vez do sempre amar que o gesto prende
O olhar ao corpo que perpassa amante
E não será de amor se outro não for
Que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
O que não temos nesse amor que amamos,
Mas só amamos quando amamos o acto
Em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes nem depois,
Amor que não possui, amor que não se dá,
Amor que dura apenas sem palavras tudo
O que no sexo é o sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
O oleoso repetir das carnes que se roçam
Até ao instante em que paradas tremem
De ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
Os que de amar o amor de amar o amor não amam.
voltar.


Jorge de Sena

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