Wednesday, November 29, 2006

Morro Agora


Foto:José Ávila

"Morro hoje;
e aquilo que vos quero é tão profundo,
que nem Antero, nem Pessoa entenderiam.
O exemplo que vos deixo é tão fecundo,
que só peca por sincero,
ou todos o seguiriam!

Morro cedo;
mas nos tempos que hão-de vir, a trote largo,
a saudade vai cravar almas tão duras.
Gritos cavos vão brotar, sem mais embargo.
Vão jorrar, por toda a parte,
Oceanos de amarguras!

Morro agora;
com o sol em fim de tarde, envolvido
pelo manto leve e puro que nos cobre.
Vou, sereno, sem pavor e destemido,
e, com olhos de almocreve,
vos, verei gente tão nobre!

E daqueles que, por medo ou desprezo,
não deixaram que eu visse a ebúrnea aurora
me despeço. E, com o sol em fim de tarde,
morro hoje, morro cedo,

Morro agora!"


Carlos Rêgo-Costa de Matos

Poema e Fotografia publicados no Suplemento de Cultura do Açoriano Oriental a 28.11.2006 (disponível online para assinantes)

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