Sunday, March 19, 2006

O Repouso da Garça (na morte de Natália)

Naquele dia, a cancela da ilha ficara aberta
por masculino descuido, e a taramela do destino
aquietou-se para ouvir passar a garça

Cuidado! é a Natália que aí vem
Infanta de Sagres a caravelar no dorso da atlântida
anti-ciclone das (re)voltas da sapateia
da Grândola Vila Morena da Fajã de Baixo
(alquidar vulcânico da coragem de ser gente
saudade vertical de distâncias a chegar.)

Natália, mulher-caravela! imagino-te ao lado de Florbela
a remoçar o romance e Pedro e Inês;
vejo-te ainda com a batuta da coragem
a desafiar o solfejo antigo de Alice Moderno;
depois, adivinho-te com Antero na reza do soneto Consulta
junto ao primeiro degrau do Sumo-Bem.

Natália, vem daí! O sossego mata-nos, Mulher!
Faz-nos falta o gemido criador da tua verve
e a vertigem ciclópica da tua lira:
. desde que partiste, Portugal está morno:
boceja-se nos Açores, esbraceja-se na Madeira,
e a liberdade recolheu a quartéis.


João-Luís de Medeiros
(gentilmente cedido pelo próprio)

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