Saturday, June 18, 2005

Soneto a Duas Mãos

A mão que me sustenta e eu sustento

é mão capaz das vinte e cinco linhas

e do selado azul de um requerimento

ou doutras diligências comesinhas...





Habituada por secretarias,

esperta, decidiu de um grave acento,

a vírgulas guindou torpes cedilhas

e mastigou papel, seu alimento...





Contraiu calos, revoltou-se às vezes,

contra certos despachos, tão soezes

que até o dedo auricular se ria...





Com dois dedos de aumento se curvava

e logo, altiva, à esquerda se mostrava... Agora?

Estão as duas na poesia...





Abandono Vigiado (1960)

Alexandre O´Neill

No comments: